Se você é do time dos que odeiam filmes dublados, pode culpá-lo quando só encontra sessões dubladas na TV ou no cinema. Um vanguardista do cinema brasileiro e amigo próximo de Walt Disney, se eternizou no imaginário popular pela assinatura dos seus trabalhos de dublagem para a TV: “Versão brasileira, Herbert Richers”. Pioneiro na arte de dar voz em português às produções estrangeiras, o paulista de Araraquara criou uma cultura que até hoje perdura no mercado audiovisual tupiniquim, movimentando fortunas.
Talvez, até hoje, muita gente não entenda exatamente como é a pronúncia correta do seu nome. Mesmo assim, dificilmente haverá um brasileiro, entre os que cresceram vendo filmes e desenhos animados na TV até os anos 1990, que não tenha ouvido falar nele. É provável, até mesmo, que sequer o telespectador saiba que aquela chamada na abertura de inúmeras produções faz menção a uma pessoa. Mas algo é certo: é uma marca que terá lugar para sempre na história.
E tudo começou com a visão empreendedora do jovem Herbert, que deu seu passo para o sucesso quando trabalhou como cinegrafista em um documentário que Walt Disney gravou no Brasil, em 1946. Já naquele tempo, ele tinha um inglês fluente, que acabou abrindo caminho para uma aproximação com o magnata norte-americano. Logo os dois acabaram se aproximando e construindo uma ponte sólida entre Hollywood e o Brasil.
Pouco tempo depois de conhecer Disney, Richers passou a produzir filmes e, mais tarde, com visitas cada vez mais frequentes aos EUA, começou a atuar como distribuidor de filmes. Com uma dica do amigo, ele resolveu implementar uma inovação: dublar os filmes estrangeiros em vez de utilizar o complicado mecanismo de legendas da época, que era de difícil leitura.
Seguir a ideia de Walt Disney foi a cartada de mestre de Herbert Richers. Logo as dublagens se popularizaram e ele passou a dominar cerca de 80% do mercado. O sucesso foi tão grande que, nos anos 1970, os estúdios reunidos na empresa que levava seu nome já tinham mais artistas na folha de pagamento do que a Rede Globo. Os erros, no entanto, vieram. O sucesso, paradoxalmente, acabou se tornando seu algoz, graças à falta de percepção do problema que sua estrutura poderia gerar caso saísse do controle.
E foi o que aconteceu. Outros estúdios foram aparecendo, oferecendo os mesmos serviços por custos menores e o monopólio de Richers foi acabando. Na transição do oceano azul para o vermelho, ele se afogou. Com as contas indo mal, os salários começaram a atrasar e os processos trabalhistas começaram a aparecer. A empresa também deixou de honrar seus compromissos tributários e, daí por diante, foi ladeira abaixo. No ano passado, cerca de três anos depois da morte de Richers, o que sobrou da empresa foi penhorado para pagar dívidas. E assim acabou a história de uma iniciativa que revolucionou uma era, ditou padrões, mas não conseguiu sobreviver.
Fica para sempre o exemplo (do que fazer e do que não fazer) e a lembrança de um dos empreendedores mais importantes da história deste país. Linha do tempo 1923 – Nasce Herbert Richers 1946 – Conhece Walt Disney e a partir daí, além de amigo, vira parceiro nos negócios 1950 – Funda a companhia que leva seu nome 1970 – Praticamente todos os filmes dublados no Brasil passam pelo estúdio Herbert Richers 2009 – Morre no Rio de Janeiro, aos 86 anos
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